Pedro Almodóvar: a sensibilidade e a paixão

“Seus filmes escandalosos e provocadores tornaram-no o cineasta espanhol mais aclamado mundialmente desde a morte de Franco."

Ronald Bergan - Guia Ilustrado Zahar, Cinema. Editora Zahar.


Consgrado por seu estilo corajoso em abordar temas da contracultura, os filmes do espanhol Pedro Almodóvar vão do melodrama ao undergrund, passando pelo comovente e apaixonado, pelo erótico e chocante, pelo cômico e exagerado. Ou ainda, um conjunto de todos estes estilos. O cinema Noir, filmes sobre crimes em preto e branco com forte presença de sombras e personagens misteriosos, cuja origem vem do cinema expressionista alemão, é uma das referências do diretor, assim como melodramas mais clássicos como Um bonde chamado desejo (1951) ou A malvada (1950). O diretor consegue assim, construir um gênero único, com influências sim, mas totalmente próprio. 
Nascido em 1949 em uma pequena cidade em La Mancha, na Espanha, Almodóvar vem de uma família pobre e cheia de tradições. Sem dinheiro para estudar cinema, começa a gravar com uma camêra Super 8 seus primeiros trabalhos. Com ascensão da “movida madrileña”, um movimento de liberdade cultural pós-morte do ditador Francisco Franco (1892-1975), no fim dos nos 60, seus curtas já possuem as características que tornariam sua obra tão conhecida. Além desses experimentos cinematográficos, participa também na produção de fotonovelas, letras de músicas, romances, histórias em quadrinhos além de se apresentar em bares transvestido de mulher. 
“Eu nasci em La Mancha e vivi lá por oito anos. Esses anos me serviram para entender que não gostava daquele lugar, que não era lá que eu queria viver e que levaria minha vida de maneira oposta às pessoas de lá. Mas depois de fazer A flor do meu segredo, descobri que eu pertencia a La Mancha, mesmo sem morar lá e mesmo que toda minha vida representasse o oposto da de um manchego comum.” 
Em 1978 dirige seu primeiro longa, “Folle... Folle... Fólleme, Tim”. “Pepi, Luci, Bom y otras chicas del Montón” (1980), “Laberinto de Pasione”s (1982) e “Entre Tinieblas” (1984) trazem uma liberdade de experimentação em situações excessivamente cômicas de motivações quase sempre sexuais.
“Encontrei Carmen nos anos 70, em Madrid. Ela era uma atriz de teatro conhecida. Eu fazia filmes em Super-8. Ela me deu força, acreditou em mim. Trabalhou em todos os meus filmes até Mulheres à beira de um ataque de nervos. Nossas vidas eram muito entrelaçadas. Tivemos problemas, nos afastamos”, disse o diretor sobre Carmen Maura, uma de suas atrizes favoritas, à Folha de S. Paulo em 2006.




Com “Mulheres à beira de um ataque de nervos” (1988) Almodóvar alcança seu primeiro grande sucesso de crítica e público explorando anplamente o universo feminino. “A flor do meu segredo” (1995) e “Carne Trêmula” (1997) continuam a retratar paixões femininas, mas de forma menos cômica, constituindo uma fase melodramática na carreira do diretor. Ambos não tiveram grande repercussão.“Tudo sobre minha mãe” (1999) mantém o estilo sóbrio de seus recentes trabalhos, mas com excepcional sensibilidade ao focar temas humanos e familiares, e homenagear grandes atrizes do cinema europeu e americano. Este, se torna um de seus mais premiados sucessos, conquistando importantes prêmios no Festival de Cannes, Goya, Bafta, César, David di Donatello, Globo de Ouro e um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. 

“Fale com ela” (2002) e “Má educação” (2004) também alcançam grande sucesso. Com “Volver” (2006) o cineasta retorna à sua terra natal, La Mancha, em uma história cheia de crenças e significados. Após uma tentativa de estupro, uma jovem mata seu padrasto com uma facada. A mãe da menina, Raimunda (Penélope Cruz) defende sua filha e, enquanto pensa em maneiras de esconder o corpo do marido, tem que lidar com fantasmas de seu passado, como o retorno de sua mãe, interpretada por Carmen Maura, que todos pensavam estar morta. 

“Abraços partidos” (2006) repete o sucesso da dupla formada por Penélope e Almodóvar, em um filme melodrama visualmente exuberante e requintado. Em “A pele que habito” (2011) o terror psicológico domina a narrativa do filme. Do improvável ao absurdo, o final é chocante e totalmente inpensado. O suspense se torna uma grande brincadeira nas mãos do diretor, enquanto os melodramas típicos de seus trabalhos, se tornam apenas um pano de fundo para o desenrolar sombrio da história. Já seu mais recente projeto, “Los amantes pasajeros", com estréia prevista para março, promete relembrar os velhos tempos, trazendo o ponto de vista cômico e exagerado do cineasta espanhol tão presente no inicio de sua carreira.

“Seus filmes podem ter se acalmado, ou amadurecido, e agora estão estruturados de modo mais minucioso que os de qualquer outro diretor atual, mesmo que muita coisa neles continue a ser não maior do que a vida, mas mais barulhenta.” 

Anthony Lane, “The New Yorker”, 6 de novembro de 2008.


Bibliografia:
"Coleção Folha – Cine Europeu: Volver – um filme de Pedro Almodóvar” Editora Moderna Ltda. 2011 
“Tudo sobre Cinema” Editor Geral: Philip Kemp, Quintessence Editions Ltd. 2011

Postado por Danilo Craveiro
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