#comentando - Os amantes passageiros
Los amantes pasajeros
Direção: Pedro Almodóvar
Espanha, 2013
★ ★ ★ ★ ★
Excêntrico. Divertido. Excessivo. Um retorno à comédia. Um retorno ao princípio de sua carreira. O mais recente trabalho do espanhol Pedro Almodóvar, bem menos comentado que seu antecessor - A pele que habito - é também, proporcionalmente, bem menos ambicioso. Visto com desdém pela crítica e parte do público, o filme tem sim seus desleixos. Porém, em meio a tanta insanidade, Os amantes passageiros consegue, em um segundo plano, atingir uma atmosfera analítica. Amoral. Delicioso.
Extravagância, sexualidade, materialismo e até espiritualidade. Características barrocas que permeiam os personagens desta história. Em um voo rumo a Cidade do México, piloto e co-piloto se dão conta de que um dos trens de pouso da aeronave não está funcionando. Uma situação limite, portanto. Os passageiros da classe econômica - para evitar maiores tumultos - são dopados, juntamente com as aeromoças. Os três comissários de bordo - gays - Joserra (Javier Cámara), Fajas (Carlos Areces) e Ulloa (Raúl Arévalo) são encarregados de distrair os passageiros acordados da primeira classe, que inclui um jovem que traz drogas no "culo", um ator fracassado, um assassino de aluguel, um corrupto e as excelentes Cecilia Roth como uma perua "dominatrix" e Lola Dueñas como uma recatada vidente virgem - disposta a tudo para perde sua virgindade. Além é claro do piloto Alex (Antonio de la Torre), bi-sexual mantém uma relação com Joserra, e do co-piloto Benito (Hugo Silva) que finge não perceber sua homossexualidade.
A tragédia iminente expõe os personagens escrachados a diversas situações que, sistematicamente, revelam os problemas pessoais de cada um - alguns deles rasos e banais - relacionando suas vidas de maneira novelesca. O egocentrismo também se destaca. Cada personagem apresenta um vício, um ponto fraco, um fator desprezível. Pode-se perceber uma crítica não somente à sociedade espanhola, mas à sociedade em geral. Entretanto, deixando a moral de lado, o diretor exalta cada um desses passageiros, de maneira sincera, tornando-os, em meio a loucura, tangencialmente humanos, fazendo desta história algo muito mais franco e humano do que uma crítica. Um relato, um comentário, uma resenha. Fazendo também - com a negação de um público mais conservador - vermos muitos de nossos defeitos, conflitos e repressões expostos na tela, ainda que de maneira caricata ou extrema.
Mesmo assim, a película não deixa de ter problemas. A sequência na qual as duas namoradas de Ricardo - o ator fracassado a bordo do avião - se encontram,em terra, durante a tentativa de suicídio de uma delas, é totalmente incoerente à história. Um desleixo de roteiro, acredito. O ritmo do roteiro em geral, aliás, não é tão harmonioso. Outro fator - não exatamente um problema, na verdade - é que não há um ponto de emoção evidente, de sensibilidade em relação aos personagens, ou se há se dá de maneira banal. Fator tão presente em passadas produções do espanhol, e que neste caso seria igualmente bem vindo.
Segundo palavras da crítica do blog Diário do Nordeste, "O pior filme de um grande autor ainda é melhor do que os melhores filmes de diretores de encomenda". Talvez este não seja o pior - nem o melhor - trabalho de Almodóvar. É sem dúvidas um filme que merece ser assistido. E interpretado, centenas e centenas de vezes até ser essencialmente compreendido. Um retorno. Provocante. Desleixado. Amoral. Sincero.
Los amantes passajeros é o filme mais recente do premiado diretor espanhol, Pedro Almodóvar. Quatro reconhecimentos no Festival de Cannes, dois Globo de Ouro, dois Oscar e quatro Bafta são alguns dos prêmios do cineasta. Mulheres à beira de um ataque de nervos, Tudo sobre minha mãe, Fale com ela e A pele que habito são alguns de seus trabalhos mais conhecidos.
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Danilo. Apaixonado por cinema. Desde Sempre. Estudante de Cinema e Audiovisual. “A luz produzia sons, a melodia gerava luz, as cores tinham movimento porque eram vivas; e os objetos eram a um tempo sonoros, diáfanos e suficientemente móveis para penetrar-se uns aos outros e percorrer num átimo toda a extensão”.
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