Criticando - Não me abandone jamais


Never let me go
Direção: Mark Romanek
Inglaterra, 2011

★ ★ ★ ★ ★

A atmosfera é, ao mesmo tempo, aconchegante e assustadora. A fotografia, belíssima A história, comovente. Do começo ao fim. Porém, a impertinente sensação de decepção é inevitável em vários momentos. O drama do inglês Mark Romanek apresenta uma história inicialmente comum à ficções científicas, mas desenvolvida como mais um romance repleto de perdas e partidas. Durante os anos 70, crianças são mantidas em colégios internos para mais tarde conhecerem o real motivo sua existência: são clones feitos unicamente para doarem seus órgãos quando crescerem. Em um desses internatos conhecemos três amigos, Kathy (Carey Mulligan), Ruth (Keira Knightley) e Tommy (Andrew Garfield), que passam a lidar com a estranha razão de suas origens e com sentimentos que os entrelaçam e os tornam mais do que amigos. E, justamente nesse aspecto, o diretor não consegue dar equilíbrio ao filme.
Na primeira parte somos apresentados a um internato no qual crianças são mantidos sobre absoluta vigilância - a parte mais interessante do filme. Kathy e Tommy descobrem estar apaixonados. Ruth sente inveja do relacionamento da amiga e paquera Tommy também. A história até então comum, se torna mais ampla quando descobrimos o inevitável destino desses personagens. Quando crescerem, serão obrigados a se tornarem doadores de órgãos até morrerem. No entanto, o suspense se mantém somente nesta primeira parte. Com 18 anos, os jovens são transferidos à vilas onde podem levar suas vidas com mais liberdade, mas conscientes de que mais cedo ou mais tarde, serão chamados para realizarem suas primeiras doações. A partir de então, o triângulo amoroso se torna, praticamente, o único foco do filme. Sem grandes explicações sobre as operações de clonagem e doações. Sem explorar o fato de maneira mais intensa, os detalhes confusos e esfumaçados, ficam por conta do espectador. Nem mesmo o fato de tal operação ter total conhecimento e aprovação da sociedade em geral, é esclarecido de maneira satisfatória. Certamente este seria um ponto recheado de abordagens e discussões que acrescentariam bastante ao roteiro. A única tentativa neste sentido, acontece em uma das cenas finais, quando finalmente descobrimos o objetivo das galerias de arte realizadas nos internatos. A expressão artística, era uma maneira de conferir se aquelas espécimes possuíam uma alma.
Ruth e Tommy se tornam namorados. Kathy, vive uma vida de resignação, sempre à sombra da amiga que conquistara seu antigo e eterno amor, sem forças para reivindicá-lo ou lutar por seus sentimentos. A dupla interpretada por Carey Mulligan e Keira Knightley forma o melhor da obra. Carey realiza mais uma excelente atuação, intensa do princípio ao fim, em um personagem do qual gosto particularmente. Kathy é romântica e frágil, incapaz de falar sobre seu amor durante uma vida inteira. Ela apenas sofre e sente a dor de não ser correspondida, sem nem mesmo ter consultado seu pretendente. Já Ruth é o oposto. A beleza de Keira é arrebatadora, e a personagem igualmente caprichosa. Decide conquistar Tommy, mesmo sabendo a paixão de sua amiga, e se arrepende somente em seus últimos dias, o que curiosamente, nunca colocou em prova sua amizade com Kathy. Apesar da disputa amorosa, não somente as duas, mas os três, sempre foram amigos verdadeiros. Já a escolha de Andrew Garfield como intérprete de Tommy, constitui o segundo maior problema da produção. Em alguns momentos sua atuação não deixa a desejar, porém, em outros, gestos e expressões são absurdamente ridículos, sendo capazes de anular totalmente até mesmo sua companheira de cena, Carey. A escolha me pareceu um erro.
A falta de equilíbrio entre a atmosfera de ficção científica e o drama persiste até o fim do longa, e se mantém como o maior engano do filme. Sensível e comovente, sim, mas banal. A oportunidade de construir um pano de fundo denso, característico e cheio de personalidade - é claro, sem deixar de lado o relacionamento entre os protagonistas - é morta pelo tom excessivamente melodramático e piegas. Apesar do competente trabalho das protagonistas e da exuberante fotografia, o roteiro poderia ser melhor. A escolha, é a de um romance, ainda que comovente e bonito, comum e incerto.



Postado por Danilo Craveiro
Discussão 0 Comentários

Comente

Tecnologia do Blogger.