Criticando - Ferrugem e Osso


De Rouille Et D'os
Direção: Jacques Audiard
França, 2012
★ ★ ★ ★ 

Personagens insensíveis. Vivos. O caminho certo. A direção errada. O que resta. Íntimo. Belo. Doce.
Stephanie (Marion Cotillard) é uma adestradora de orcas. Ali (Matthias Schoenaerts), um boxeador frustrado. Sem dinheiro e abandonado pela esposa, Ali se muda para a casa de sua irmã no sul da França com seu filho de cinco anos, Sam (Armand Verdure), e passa a fazer bicos como segurança. Trabalhando em uma boate, ele conhece Stephanie, uma jovem bonita que se envolvera em uma briga. Ali a acompanha até sua casa, os dois trocam algumas palavras e se despedem sem grandes sentimentos.
Ambos vivem o que resta, aquilo que sobrou de suas vidas. Vivem um presente ao mesmo tempo inconstante e estável. São de certa forma, insensíveis. Stephanie tem uma relação conturbada com seu namorado e Ali uma relação pouco afetuosa com seu filho.
Um telefonema irá uni-los semanas depois, quando Stephanie, após um acidente em seu trabalho perde suas duas pernas. Sozinha e deprimida, Ali parece ser o único a poder ajudá-la, mesmo sem conhecê-lo realmente. E na verdade é. Inicialmente, ambos desenvolvem uma relação de amizade. Para ela, ele é aquilo que lhe resta, sua única luz. Para ele, ela é apenas ela, apenas a moça da cadeira de rodas a quem ele se propôs a ajudar. O que veremos porém, é justamente a mudança dos dois personagens. Se antes pareciam insensíveis, cada cena passa agora a revelar um retrato íntimo e detalhista das sensações que o casal experimentará após um acordo: ele a ajudará a sentir novamente o prazer sexual.
Pouco a pouco, belo e rude, vemos a direção começar a mudar. Ali retorna às lutas, disputando torneios ilegais nos becos da cidade, e Stephanie começa a se adaptar à uma prótese que lhe permite caminhar novamente. Transa a transa, a relação deles também começa a mudar, os aproximando cada vez mais do que convencionalmente poderíamos chamar de uma história de amor.
Após problemas em seu trabalho e brigas com a irmã, Ali decide partir para o norte do pais, onde conseguira outro emprego. Abruptamente, sua relação com Steph é interrompida sem explicações. Ele parte sem avisá-la. Parte dela, a primeira demonstração de amor, ao sentir profundamente a ausência do rapaz. Ele, sem dar o braço a torcer, continua a vendo tão dispensável como talvez sempre fora. A separação é então essencial para uni-los outra vez. Em um clímax agonizante em um lago congelado, Sam quase perde a vida ao se afogar. Justamente, o sentimento da quase perda o faz enxergar: ele ama Steph. O que se segue, retrata a tímida felicidade daqueles que atravessaram uma vida sem rumo e desorientada.
Sem dúvidas uma das mais sensíveis atuações de Marion, no longa rude mas belo de Jacques Audiard.  Dos perfeitos efeitos especiais que deixaram a atriz francesa sem pernas, às tão necessárias e dolorosas cenas de sexo. Do rude ao belo. De Marion à Matthias. Da ferrugem ao osso. Um filme doloroso mas necessário.




Postado por Danilo Craveiro
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