Criticando - O casamento de Rachel

"Rachel Getting Married"
Direção: Jonathan Demme
Ano: 2008

Eis minha primeira crítica de cinema. Na verdade, já a escrevi há algum tempo, antes da criação do blog. Peço desculpas por qualquer erro, leia e deixe sua opinião!

O casamento de Rachel é um filme basicamente diferente. O longa quase se assemelha, propositalmente, a um reality show. É claro, me refiro a maneira como foi filmado. Sua fotografia, é propositalmente descuidada e na base do improviso. Ás vezes até descuidada demais, como nas duas tomadas em que é possível ver umas das câmeras utilizadas nas filmagens , não sei se propositalmente ou não. Mas, enfim, o filme é sem dúvidas uma experiência cinematográfica inigualável para qualquer um que goste da sétima arte.
O diretor do filme ultimamente estava envolvido somente na produção de documentários, e como o próprio disse, não pensava em voltar à ficção, até que recebe o roteiro de “Rachel getting married”, e se apaixona pela história. Depois de muito vai e vem, ele e sua geniosa equipe tiveram a idéia de filmar o filme quase que no improviso, sem ensaios ou marcações de cena, somente com duas câmeras que seguiriam os atores conforme a emoção que cada cena despertava no câmera-men. A trilha sonora também não ficou na mesmice, e se decidiu colocar jovens músicos como amigos das personagens tocando todo o dia pela casa. E eis que se deu um filme bem diferente.
Como já disse, o filme é uma experiência cinematográfica inigualável. Primeiramente fiquei espantado, e até ofendido eu diria, com a forma quase caseira como foi realizado. Porém decidi dar uma chance ao longa, e não me arrependi, ainda que o estilo informal possa te deixar um pouco perdido (eu por exemplo demorei a me acostumar com tantas personagens em uma casa aparentemente tão apertada, ou a entender quem era quem).
Bem, depois de um pouco de historinha, vamos ao que interessa. O filme se movimenta pelos sentimentos das personagens e o que eles provocam em sua própria vida e na vida alheia. O que realmente me deixou impressionado foi a ousadia de como as personagens se dão o luxo de serem agressivas em momentos tão frágeis. Como no momento em que Rachel diz a sua irmã Kim (muito bem interpretada por Anne Hathaway), sem pensar no remorso ou na culpa que ela estivesse sentido, que ela é culpada pela morte do irmão mais novo (e realmente era). Além da cena em que (após a briga citada acima), Kim vai procurar sua mãe e depois de alguns minutos de discussão, recebe uma tapa, ou melhor, um soco de sua própria mãe, que por sinal é muito bem retribuído pela moça. Essas cenas, entre outras, são ousadamente reais e agressivas de certa maneira, sem jamais perder a sensibilidade.
Outro fator que me chamou a atenção, e dessa vez fazendo uso das palavras do diretor do filme, Jonathan Demme, ao fim do filme o que resta é uma sensação de esperança provocada pela verdadeira salada de etnias e religiões, e pela forma como todos (negros, brancos e asiáticos) se relacionavam com tanta alegria e intimidade, em cenas verdadeiramente coloridas e bem-humoradas, diga-se de passagem. Sinceramente, justamente por isso, ainda não descobri em qual religião foi realizado o casório, que aliás, serviu de pano de fundo e ponto inicial para a história.
Como parte dos pontos negativos da obra, tive a impressão, talvez não verdadeira, de que o longa oscila entre cenas demasiadamente dramáticas e ousadas e, no instante seguinte, cenas longas e fatidicamente alegres. Como a cena da brincadeira entre o pai e o noivo de Rachel com a lava-louças, que é comprida e entediante, para acabar na tristeza de Kim, que, sem querer, pega um prato de seu irmão falecido, terminando com o clima de festa da família. Talvez, a cena possa até se justificar por si mesma (dado o seu fim), mas enfim, que conste minha observação, caso alguém se identifique com ela. Já a cena da festa de casamento, essa posso dizer quase que com certeza absoluta, foi realmente desnecessariamente longa. Passaram pela festa do casório desde música clássica até escola de samba, terminando no bonito final do filme, que apesar de não contar com nenhuma cena tão surpreendente, é bonito.
Como conclusão, ressalto a satisfação que me causa constatar que há diretores que se dão a oportunidade de realizar verdadeiras experiências cinematográficas, sem utilizar formas prontas e tão primárias, tanto no roteiro quanto na realização, já tão ultrapassadas e exploradas somente no sentido comercial. Essa equipe pensou e inventou, ainda que não se trate do melhor filme que tenha visto, ou do que mais tenha gostado. Outro ponto importante é a atuação de Anne Hathaway, que alcançou uma merecida indicação ao Oscar de melhor atriz em 2009, além de levar um Globo de Ouro por melhor atriz em filme dramático. Seu potencial foi muito bem valorizado pela forma como o filme foi realizado. Finalmente, repito que, apesar de não se tratar do melhor filme que tenha visto, é um filme do qual se vale a pena falar e obviamente ser visto com especial atenção.

Postado por Lucero Brasil
Discussão 0 Comentários

Comente

Tecnologia do Blogger.