#criticando - Alemanha ano zero
Germania anno zero
Direção: Roberto Rossellini
Itália, 1948
★ ★ ★ ★ ★
O realismo. Uma nova forma de ver o cinema. De pensar o cinema. De sentir o cinema. Um filme de movimento. Pertencente e condutor de suas características. Um filme de autor. De ideologia, de crítica. De personagens. Reais e palpáveis. Que estão ali, no meio de tudo, assim como nós estamos no meio do mundo. Alemanha, ano zero é uma das principais obras do neorrealismo italiano. A direção é do premiado italiano Roberto Rossellini, um dos mais importantes artistas do movimento, diretor também de Roma, cidade aberta de 1945.
Berlim destruída pela guerra. Um grupo de trabalhadores discute por comida. Entre eles um menino. Edmund (Edmund Moeschke) é caçula da família. Ele a irmã se sacrificam para sustentar a família – o pai doente e o irmão mais velho que lutara na guerra. Um retrato real, preocupado com a sociedade da época. A câmera está ali apenas para fotografar a ação dos personagens, de maneira discreta, fria. Ela não trata de impor significados ou subjetividades à narrativa. A narrativa acontece pelo desenrolar da ação, da vida dos que estão ali à sua frente. Assim como a montagem, que não cria um segundo sentido, ou um segundo mundo com a ordem das imagens. A história acontece em seu sentido cronológico, a montagem também.
Edmundo busca nos mais diferentes lugares dinheiro ou comida, tendo como cenário – sempre – uma cidade devastada, morta, cruel. Seu antigo professor de comportamento nazista e pedófilo, Ennig (Erich Gühne), promete ajudá-lo em troca de alguns favores. O tom crítico de Rossellini está fortemente presente. A cidade está destruída, assim como seus moradores. Todo personagem parece um tanto quanto desprezível em algum momento. Mas fica claro que cada um sofre a sua dor, todos são vítimas. Vítimas do meio. Reflexo da cidade destruída, da completa desesperança no futuro. São peças que representam as dores de pessoas reais de uma época específica. Entretanto, não são frias ou genéricas. Ao contrário, alcançam sua particularidade minuciosa, seu ponto de comoção, de redenção.
A dramaticidade não se dá pela sensacionalismo, pela trilha sonora, pela montagem, ou por alguma situação clímax. A dramaticidade está sempre presente no retrato frio e cruel da cidade. No instinto de sobrevivência dos protagonistas. Nas locações reais de prédios, praças, casarões e ruas em ruínas. E, claramente, em seu final. Edmund, após distorcer os conselhos de Enning, decidi matar o pai, livrando a família do peso de um inválido. Nós damos conta então, de que o desespero do menino é maior que tudo. Maior que o amor pelo próprio pai. Assim como as ruínas, cada personagem teve suas emoções destruídas pela guerra. Há, apenas, o caos. O caos nas ruas, nos sentimentos, nas atitudes. A frieza da dor, da ressaca de um combate ignorante, sem sentido. Edmundo se joga do alto de um prédio. Aquilo é maior do que qualquer um pode suportar.
Na contramão do já imponente cinema hollywoodiano da época, o neorrealismo italiano propõe uma nova estética, baseada na experiência da realidade. A imagem não é a base do filme – como no formalismo. Rossellini conta uma história nua, desarmada de subjetividade. De tom crítico, político, social. De uso da arte como ferramenta para a humanidade, para a sociedade. De maneira negligente para com um cinema. Mas sim de forma consciente. Ácida. Sensível. Nua. Humana. O ponto de partida para um outro cinema.
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Danilo. Apaixonado por cinema. Desde Sempre. Estudante de Cinema e Audiovisual. “A luz produzia sons, a melodia gerava luz, as cores tinham movimento porque eram vivas; e os objetos eram a um tempo sonoros, diáfanos e suficientemente móveis para penetrar-se uns aos outros e percorrer num átimo toda a extensão”.
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